Da nebulosidade inicial, o Homem limpa os olhos, descobre o silêncio, caminha para o dia em direção à luz. O sagrado não se oculta, está em si, nele, no Homem, à procura da claridade que decorre por entre as mãos.
Do obscuro saber, o mito esmaga a exterioridade, leva o Homem à viagem interior, onde as cores revelam a presença do sagrado que se esmagam no encontro da sensibilidade, no ventre.
Da coisificação absurda, rodeante, o Homem projeta no universo, na tela, a desordem onírica, que espera, necessita, do olho, da água, da lágrima que dá ordem, sentido.
Na inquietude individual, o artista, o pintor, olha o mito, agarra a cabeça, mergulha nas cores, limpa os olhos, desvela a vida.
A Vida...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Outro pedaço de infância:)


A casa era fria…sentia tanto frio, arrepiava-me por tudo e por nada.
 Lembro-me daquele tempo tinha eu... um ano, dois anos, três anos e pouco mais. Tinha frio, praticamente só me vem à lembrança essa sensação de frio a penetrar-me no corpo.
A minha mãe fazia um esforço enorme por me manter quente. Lembro-me de ter nos pés uma garrafa de vidro embrulhada em trapos, com água quente para me aquecer um pouco. Não bastava eu queria o muito, que me aquecesse também a alma.
Era muito sorridente…mas não sei se era para toda a gente. Andava sempre a cantarolar e a ajudar a minha avó nas tarefas domésticas. Andava com ela para todo o lado. A minha avó não tinha muito dinheiro mas andava sempre a dar de comer aos pobres e aos ciganos. Lembro-me também de ir com a minha avó ao estabelecimento prisional que não estava a funcionar na altura como tal e qual foi o meu espanto quando vi tanta gente de pele escura. Percorri aqueles corredores, aquelas celas vazias de pijamas às riscas e cheias de gente cor de chocolate. Fiquei muda perante tal visão, os meus olhos queriam ver tudo…fiquei mesmo muda, até hoje…apenas com os meus pensamentos.
 Era tão cantadeira que a minha professora pedia constantemente que eu cantasse as canções que a minha avó me ensinava, ao ponto de ir buscar um gravador e gravar-me a cantar.
Adivinhem quais eram as minhas atividades preferidas? Pois essas mesmas.
A matemática era um bicho- de -sete cabeças porque não queria sequer pôr a minha a funcionar.
Até nos intervalos ficava a fazer contas de dividir e de subtrair, só era boa nas de somar:)
Eu só queria ir para a beira dos meus colegas que alegremente estavam a  brincar.
No desenho era a melhor, mas quando alguém me impunha algo saía tudo ao contrário.
Lembro-me uma vez um concurso em que toda a turma participou e a professora estava desgostosa com os nossos desenhos – Professora nem o da Sílvia? -Disseram eles.
Era sobre o S. João… era, lembro-me perfeitamente. Fui tão minuciosa, estava tão detalhado, era tanta animação numa folha A 4 … que não chamava à atenção.
Se tivesse desenhado um enorme balão multicolor até o S. João teria gostado.:)

2 comentários:

FA disse...

Que ricos detalhes amiga... e cada um desses "pedaços" de sua infância fez-se a pessoas linda que és, sensível, alegre, positiva e muito amiga!

Beijinhos no coração! ;)

Sílvia Mota Lopes disse...

Agora deixaste-me muda!:)
beijinhos com amor e amizade:)