Da nebulosidade inicial, o Homem limpa os olhos, descobre o silêncio, caminha para o dia em direção à luz. O sagrado não se oculta, está em si, nele, no Homem, à procura da claridade que decorre por entre as mãos.
Do obscuro saber, o mito esmaga a exterioridade, leva o Homem à viagem interior, onde as cores revelam a presença do sagrado que se esmagam no encontro da sensibilidade, no ventre.
Da coisificação absurda, rodeante, o Homem projeta no universo, na tela, a desordem onírica, que espera, necessita, do olho, da água, da lágrima que dá ordem, sentido.
Na inquietude individual, o artista, o pintor, olha o mito, agarra a cabeça, mergulha nas cores, limpa os olhos, desvela a vida.
A Vida...

domingo, 6 de maio de 2018

Esther - Yann Tiersen

Gustavo Santaolalla - Pajaros

Pampa - Gustavo Santaolalla

Ser mãe é dar vida

O ventre materno é a primeira casa de um filho. A Mãe transporta no ventre um mundo de emoções e sente cada metamorfose como um milagre de vida.
Quando o filho(a) nasce esquece todo o mal-estar que uma gravidez acata, enjoos, azia, dores de costas, pernas inchadas, as múltiplas idas noturnas à casa de banho, enfim, são vários os incómodos que uma grávida tem de passar durante o período de gestação até à hora do parto, isto no decorrer normal de uma gravidez, porque muitas vezes há riscos acrescidos. Gravidezes de risco, onde os cuidados são redobrados e acalentados, mas ser mãe é muito mais do que isso e ser filho também. Ser mãe e ser filho é uma simbiose afetiva, um cordão umbilical invisível onde o amor é alimentado para toda a vida, mesmo na distância e ausência física.
Não sei bem se vou conseguir materializar em palavras o que estou a sentir neste momento que sou mãe, mãe de três filhos tão iguais a si próprios. Ser mãe não é um mar de rosas, não é um mundo de fantasia e de extasiada felicidade. Ser mãe é dor e sofrimento, responsabilidade, preocupação, receio, é um poço de dúvidas, é questionar-se dia após dia, é crescimento, aprendizagem e amadurecimento.
Todas as relações íntimas são desinquietas e emotivas porque são genuínas e na genuinidade existe a imperfeição e o que de tão humanamente somos, sem a pretensão de esconder, disfarçar, ou tentar agradar. Somos o nosso verdadeiro “eu” numa relação baseada em factos reais.  É difícil para um filho compreender este mundo de ser pai, ou mãe, possivelmente só o vai compreender verdadeiramente quando a vida lhe proporcionar esse estado.
O respeito  é a base de toda e qualquer relação harmoniosa.
O Amor salva.



Ser mãe não é apenas trazer um ser no ventre.  Ser Mãe é muito mais.

A todas as mães biológicas ou não.











SER CRIANÇA
É DEIXÁ-LA SER RISO E SER DANÇA

[...]

excerto do poema
SML
Antologia Poética
Os Direitos Das Crianças.

sexta-feira, 4 de maio de 2018


O amor evoca vontade e inteligência,
 a arte, amor e pasmo.

Talvez o céu tenha a cor que cada um lhe quiser dar, ou que as estrelas brilharão mais se as sacudirem. 
Que o carrossel se manterá em movimento se souberem da sua existência. 
Que a relação mais íntima levanta pó e provoca reação imediata nos olhos. 
Que o medo pode ser um pássaro morto.
O tempo, uma âncora num cais de lodo.
Talvez a mão seja, para uns, o peso da forma, para outros, a essência da percussão.





Talvez nunca é. Talvez sim, talvez não.

Talvez as palavras supliquem voz, ou apenas silêncio.

SML


quinta-feira, 3 de maio de 2018


Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos

O Amor é a vontade de cuidar e de preservar o objeto cuidado. Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. Um impulso de expandir-se, ir além, alcançar o que “está lá fora. Ingerir, absorver e assimilar o sujeito no objeto, e não vice-versa, como no caso do desejo. Amar é contribuir para o mundo, sendo cada contribuição o traço vivo do eu que ama. No amor, o eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o mundo. O eu que ama expande-se, doando-se ao objeto amado. Amar diz respeito à sobrevivência através da alteridade. Assim, o amor significa um estímulo a proteger, alimentar, abrigar; e também à carícia, ao afago e ao mimo, ou a ciumentamente- guardar, cercar, encarcerar. Amar estar ao serviço, colocar-se à disposição, aguardar a ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a responsabilidade. […] 
Se o desejo quer consumir, o amor quer possuir. Enquanto a realização do desejo coincide com a aniquilação do seu objeto, o amor cresce com a aquisição deste e realiza-se na sua durabilidade. Se o desejo se autodestrói, o amor autoperpetua-se.
[…]
Desejo e amor encontram-se em campos opostos. O amor é uma rede lançada sobre a eternidade, o desejo é um estratagema para se livrar da faina de tecer redes.  Fiéis à sua natureza, o amor empenhar-se-ia em perpetuar o desejo, enquanto este se esquivaria aos grilhões do amor.



Zygmunt Bauman
Amor Líquido