Da nebulosidade inicial, o Homem limpa os olhos, descobre o silêncio, caminha para o dia em direção à luz. O sagrado não se oculta, está em si, nele, no Homem, à procura da claridade que decorre por entre as mãos.
Do obscuro saber, o mito esmaga a exterioridade, leva o Homem à viagem interior, onde as cores revelam a presença do sagrado que se esmagam no encontro da sensibilidade, no ventre.
Da coisificação absurda, rodeante, o Homem projeta no universo, na tela, a desordem onírica, que espera, necessita, do olho, da água, da lágrima que dá ordem, sentido.
Na inquietude individual, o artista, o pintor, olha o mito, agarra a cabeça, mergulha nas cores, limpa os olhos, desvela a vida.
A Vida...

sábado, 28 de julho de 2012

A asa ( escrito agora)


 Naquele trilho deserto
 Onde o verde ainda verdeja
 Encontrei uma asa no chão
 Perdida sem nome
 Não uma asa de ave
 Não uma asa qualquer
 Uma asa nunca vista
 Neste mundo de homem só
 Iluminada envolta de brilho
 Que cega a quem passa
 Não estava suja, nem tinha pó
Toquei para a sentir
 E o cheiro que emanava
 Não era perfume, nem jasmim
 Era algo que nos transcende
 Nunca senti cheiro assim
 Ela levitou e por instante
 Encaixou, colou em mim
 Fiquei um pouco assustada
 Mas mediante algo tão belo
 Não havia mal que me fizesse
 Mas…para que serve uma asa apenas?
 Perguntei,  pensei para mim
 Só com ela não posso voar
 Percorri mais uns passos
 Desta vez mais certos
 Mais à frente avistei
 Um  outro viajante
 Também ele com uma asa só
 Acelerei o passo
 E quando estava ao seu lado
 Olhei para ele
 E ele olhou para mim
 Deu-me a mão sem dizer palavra
 E eu, palavra não lhe dei
 E Mudos de mãos dadas
 Começamos a andar ao mesmo compasso
 Como se fossemos um só
 As asas começaram a bater
 Mais rápido que o vento
 Voamos quase sem dar por isso
 Percorremos o mundo
 Depois de o vermos de perto e de longe
 De chorar e de sorrir
 Até se tornar cada vez mais pequenino
 Voamos cada vez mais para longe
 Felizes por partir

 Sílvia Mota Lopes

6 comentários:

Gaspar de Jesus disse...

Cara Sílvia
Belíssimo Poema o seu.
Houve tempos não muito distantes em que eu sonhava frequentemente que era um pássaro. Neste caso a Sílvia "sonhou" que só com a chegada de uma alma gémea se fez pássaro.
o saudoso Poeta Adriano Correia de Oliveira definiu bem o que para ele era o Sonho, mais ou menos assim: - "... eles não sabem nem sonham, que o Sonho comanda a Vida, tão concreta e definida, como outra coisa qualquer..."
Beijo
Gaspar de Jesus

Sílvia Mota Lopes disse...

Obrigada Gaspar:)
é mesmo isso...
beijinho

Sílvia Mota Lopes disse...

ou mais do que para além disso....
:)

MA FERREIRA disse...

Silvia..eu não sou muito boa em comentar poema...mas achei este seu poema de um lirismo incrivel...
Parabéns..seu poema de toco..de verdade!
bjinho...

Sílvia Mota Lopes disse...

Obrigada MA:)
Também me tocou muito a escrevê-lo possivelmente isso transparece para as pessoas:)
Um beijo e um abraço apertadinho

Sílvia Mota Lopes disse...

Sim Ma é um poema lírico:)