Sobre a Fragilidade dos Laços Humanos
O Amor é a vontade de cuidar e de preservar o objeto cuidado.
Um impulso centrífugo, ao contrário do centrípeto desejo. Um impulso de
expandir-se, ir além, alcançar o que “está lá fora. Ingerir, absorver e
assimilar o sujeito no objeto, e não vice-versa, como no caso do desejo. Amar é
contribuir para o mundo, sendo cada contribuição o traço vivo do eu que ama. No
amor, o eu é, pedaço por pedaço, transplantado para o mundo. O eu que ama
expande-se, doando-se ao objeto amado. Amar diz respeito à sobrevivência através
da alteridade. Assim, o amor significa um estímulo a proteger, alimentar,
abrigar; e também à carícia, ao afago e ao mimo, ou a ciumentamente- guardar,
cercar, encarcerar. Amar estar ao serviço, colocar-se à disposição, aguardar a
ordem. Mas também pode significar expropriar e assumir a responsabilidade. […]
Se o desejo quer consumir, o amor quer possuir. Enquanto a
realização do desejo coincide com a aniquilação do seu objeto, o amor cresce
com a aquisição deste e realiza-se na sua durabilidade. Se o desejo se
autodestrói, o amor autoperpetua-se.
[…]
Desejo e amor encontram-se em campos opostos. O amor é uma
rede lançada sobre a eternidade, o desejo é um estratagema para se livrar da
faina de tecer redes. Fiéis à sua
natureza, o amor empenhar-se-ia em perpetuar o desejo, enquanto este se
esquivaria aos grilhões do amor.
Zygmunt Bauman
Amor Líquido
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